João do Rio.
O Jornalista João Paulo Emílio Cristóvão Coelho Barreto, conhecido como João do Rio, ele foi cronista, contista e teatrólogo, nasceu em 5 de agosto de 1881 e faleceu em 23 de junho de 1921 de um infarto. O corpo dele está enterrado no cemitério São João Batista em Botafogo.
Na morte dele, compareceu dois presidentes e o Jornalista Rui Barbosa que era colega dele de trabalho.
Ele foi um inovador em tudo, um verdadeiro explorador; ele andou em vários ambientes, ele criou o tipo literário de cronista. João do Rio, ele foi quebrou preconceitos, pois andava pela matriz africana, e amava carnaval. Ele viajou o mundo e fundou o Jornal A Pátria.
O interresante é que ele descobriu a praia de Ipanema, que no início do seculo XX Ipanema era chamada Vila de Ipanema.
Um pouco da crónica de João descrevendo como era a Vila de Ipanema no início do seculo XX.
A praia maravilhosa
Há um ano alguns poetas e alguns homens de sociedade ouviam Isadora Duncan – Musa do Erecthei que passa pelo mundo como o segredo revelado da beleza suprema. Isadora falava no deslumbramento da natureza. E de repente ela nos perguntou se conhecíamos a praia.
- O Leme?
- Não.
- Copacabana?
- A outra – outra praia...
As belezas do Brasil interessam pouco aos brasileiros. Nós positivamente não conhecíamos a outra praia – a praia que sobremaneira impressionara Isadora – a dançarina de gênio profundo. Ela, porém, fez questão de mostrar a sua praia. Servia-lhe um chauffeur – titular arruinado que se entrega ao automobilismo nas garagens por falta de dinheiro. O chauffeur sabia onde ficava essa praia. Era preciso ver logo! Assim despencamos da terrasse do moderno Hotel, onde Messager ficou só fumando um charuto. Era mais de meia-noite na noite de inverno e de luar.
(...)*
- Mas é o fim do mundo.
- Não, é o Arpoador, o Ipanema.
Realmente. A rua dava numa praia sem a iluminação elétrica, sem outra iluminação mesmo que fosse a do luar. A do luar era tênue, tão derramada estava pelas neblinas. De modo que, com o galope espumarento das ondas, em frente, e a convulsão de titans petrificados dos montes ao fundo e aquela atmosfera de névoa – pela primeira vez nós vimos uma daquelas paisagens de Shelley em que a natureza parece fundar-se no inebriante espiritual da sua própria luxúria.
- Como é belo! Como é belo! Dizia Isadora em êxtase.
- Estamos em frente ao Country-Club! Que pena não podemos cear...
E há um ano eu guardava as lembranças desse passeio como qualquer coisa de irreal e de infinitamente belo – como se naquela noite tivesse vivido o Prometheu desse mesmo Shelley, sagrado poeta.
Há dias, numa sessão de cinematografia – um jornal da semana que com habilidade inteligente executa há tempos o jovem cinematografista Alberto Botelho – tornei a ver Ipanema, não na bruma de um luar de inverno, mas ao sol, com detalhes de beleza maravilhosos.
- É de fato muito bonito!
- V. não conhece ainda Ipanema.
- Conheço sob o prisma Shelley e sob o prisma Isadora.
Os poetas revelam, os homens realizam. Quer conhecer Ipanema sob o prisma Raul Kennedy de Lemos e Companhia Construtora? É impossível que não impressione essa realização para a qual concorrem todas as pessoas de verdadeiro gosto – realizando assim um dos mais belos trechos do Rio – a Praia Maravilhosa.
O meu desejo era grande de conhecer Ipanema – de verdade, sem Shelley, sem Isadora, sem cinematógrafo. Fazia uma tarde linda. O primeiro automóvel que tomamos levou-nos lá em menos de vinte minutos. A surpresa primeira e agradável foi ver a rua há um ano intransitável – asfaltada. O meu guia explicou:
- Ainda há um pequeno trecho – cerca de 400 metros – por calçar. A prefeitura de certo não deixará de executar este trabalho. Com o trabalho de valorização empreendido por Kennedy de Lemos, os terrenos que eram vendidos a três e a quatro contos o lote, estão sendo vendidos já a 8, 10 e mais. Só em impostos de transmissão a Prefeitura ganha com isso. Veja depois o aumento do imposto predial.
Mas nos dávamos na praia com a enorme Avenida Meridional macadamizada.
- Quem macadamizou isto?
- O próprio Raul Lemos. Ele tem um gênio empreendedor. É moço. Ficou-lhe em mais de cem contos o trabalho. E ficou apenas por tal preço, porque a crise de trabalho fez com que muitos operários lhe fossem oferecer a colaboração com salários reduzidos. V. pode imaginar o futuro deste trecho do Rio. Lembra-se do que era o Leme há quinze anos?
- Devem lembrar-se as pessoas mais ou menos velhas.
- Pois era o deserto. Dentro de cinco anos, a Praia Maravilhosa será o bairro mais elegante e mais belo da cidade que a Jane Catulle Mendes denominou La ville merveilleuse. Santos Dummont ficou tão impressionado que vai mandar construir aqui uma vila.
Eu não via mais a paisagem lunar, de um ano atrás. Via uma cidade monumental surgindo ao sol da tarde. Eram ruas a alinhar; eram turmas de trabalhadores calçando algumas dessas ruas; eram caminhões – automóveis cruzando-se carregados de material; era o movimento dos bondes, que só aparecem quando há no local vida própria; era principalmente nas ruas que percorríamos nas casas novas em folha, os estabelecimentos comerciais, indicadores de que o crescimento do bairro se fazia vertiginoso.
O que se executou este ano! – tornava o meu informante. O prolongamento da linha de bonde de Ipanema numa extensão de 1600 metros; a construção de um ramal da linha de transways para o Leblon numa extensão de 3000 metros; a construção de uma parte da Avenida Meridional com 1600 metros e extensão o marcaram betuminoso – o melhor calçamento do gênero, e toda essa obra em formação. Até o fim do ano há mais dois mil metros de ruas calçadas.
- Caramba!
- E com planos maiores tais como a ponte que deve ligar o Leblon à Gávea, (...)* – Raul Kennedy de Lemos formou a Companhia Construtora Ipanema. Dispondo de material próximo a companhia constrói muito mais em conta e a prazo longo em prestações que equivalem aos aluguéis que eternamente pagam aos proprietários aqueles que não podem ter de pancada a quantia para ter a sua casa.
- E o prazo?
- Dez anos, com a possibilidade de menos tempo porque não são aceitas quando possíveis as prestações para amortização mais rápida.
Tinha o nosso automóvel enveredado por uma rua – que ia dar a uma colossal serraria.
- Da empresa?
- A serraria tem várias sessões. Ocupará uns dois mil operários. É bem uma grande fábrica de construções de casas. Casas de luxo. São todas de cimento armado e no seu preparo empregam-se madeiras brasileiras, que até hoje só serviam para móveis de luxo – jacarandá, óleo vermelho, pau marfim, pau cetim. Venha ver uma casa que construímos por 40 contos, com o pagamento em prestações.
Saltamos adiante. Havia quatro vilas de fachada elegante. Entramos numa delas ainda vazia. Quem conhece o desconforto das habitações de aluguel no Rio, com paredes empinadas, portas de pinho pintadas, escadas que rangem, banheiros incríveis e forrações ignóbeis – tem pela comparação verdadeiro pasmo. A casa em que estávamos com os tetos, as janelas e as portas de óleo vermelho, soalhos em mosaico, sala de banho vasta, e a disposição confortável dos interiores ingleses – era uma casa de luxo.
- Mas com esta crise, haverá quem se abalance?...
- Os terrenos sobem de preço de semana a semana. Já não há um só de frente para o mar. E as encomendas de construções aumentam na proporção. Pode imaginar dentro de três a quatro anos o que será a Praia Maravilhosa – sendo dentro do mais belo cenário do Rio – a 45 minutos de bonde da Avenida Central – o bairro onde todas as casas serão grandes ou pequenos palacetes feitos com elegância e arte...
O meu guia fez depois o automóvel parar no Country-Club – para o aperitivo da tarde. Subindo as escadas dessa sociedade tão refinadamente distinta, eu quis concentrar na retina esse outro momento da Praia Maravilhosa – o momento em que uma cidade imprevista e bela desabrocha da beleza irreal e profunda do trecho mais admirável do Rio. E vendo aquele trabalho febril e os palácios brancos sob o carmesim do ocaso, entre o verde azul do mar, lembrei um outro esforço à beira do deserto, feito há anos por capitalistas belgas – a cidade em que todas as casas são belas e de luxo – Helliopolis construído de repente a uma hora do Cairo...
O Rio entendeu-se pelas praias. Contornou o Pão de Açúcar e continuou no Leme, em Copacabana. O novo bairro é o derradeiro ponto dessa reticência de casarias. Mas é o ponto final mais formoso de uma cidade – uma nova cidade toda bela num pedaço de terra tão linda, que, sem exageros, é impossível contemplar sem lhe dar o verdadeiro nome: - a Praia Maravilhosa.
*trecho com texto ilegível, por falha no microfilme do jornal "O Paiz", de 23 de maio de 1917. A crônica foi copiada dos arquivos de periódicos na Biblioteca Nacional.
Texto retirado do blog programa estrelinhas.
João do Rio, ele um dos frequentadores intelectuais do bairro. Ele foi também um dos patronos da escola de samba, e um dos ambientes que ele andava era das matrizes africana, frequentava os cultos afro-brasleiros.
Em Botafogo tem o nome chamado Paulo Barreto, esta personalidade foi muito importante para a história de cidade do Rio de Janeiro. Um ótimo roteiro para os curiosos por turismo histórico, e a obras dele estão conservados no Real Gabinete Português que fica no centro do RJ.
Ele escreveu em alguns Jornais, periódicos como: na gazeta de notícias indicado pelo presidente Nilo Peçanha.
João em sua vida pessoal sofreu homofobia, e gordofobia, e racismo por causa da cor da pele, mais ele combateu isso em forma de cronica para dar educação para a sociedade da epoca a não ter preceito com as pessoas pois na epoca a politica era embraquecimento por causa da reforma de Pereira Passos. E hoje em dia não muito não em pleno seculo XXI.
O que aprendemos com João ter uma vida simples, exploradora, e anti-racista pois ele andava em todos os ambientes do mais pobre a elite.
Referencia Bibliografica: Paulo Barreto - pseudônimo: João do Rio | Academia Brasileira de Letras
Entrelinhas: A praia maravilhosa (programaentrelinhas.blogspot.com)